Criado em 1995, no antigo Cinema de Camaçari, o Grupo de Teatro Caeba, foi instituído prioritariamente como ferramenta de distribuição dos saberes culturais e dos objetivos da também criada naquele mesmo ano, Fundação Cultural Caeba. De forma inovadora para os padrões da época, o grupo tinha como norte, quebrar o paradigma da arte teatral, tida como marginalizada de um lado, e elitizada do outro, o que dificultava sobremaneira a participação dos chamados normais em tais movimentos. Camaçari, nos idos de 1990 e até a criação do grupo Caeba, só possuía um único Grupo Teatral, O TAC, que montava um espetáculo por ano e às vezes repetia-se o mesmo espetáculo por anos a fio, isto porque, todos os técnicos do grupo, eram dependentes do poder público e deles dependiam para executarem seus programas em forma de espetáculos. Quando o Caeba surgiu em 1995, de cara, interrompeu-se esta dependência do poder público e ainda por cima, com uma montagem autoral que falava das mazelas do poder e da podridão da política. CIDADANIA, o primeiro trabalho teatral escrito para ser apresentado na rua, trazia no seu texto escrito, conteúdo de cunho proibido naqueles tempos, que ia de encontro a tudo que se propunha fazer na arte de rua. Portanto, o Grupo Caeba, teve como sua primeira montagem (CIDADANIA), obra autoral do seu criador e diretor: Wilson Oliveira Bizerra, e foi concebido, um e outro, para apresentações nas ruas. Com o espetáculo Cidadania, o grupo passou a fazer parte das programações do recém-criado Movimento de Teatro Popular de Rua da Bahia, liderado pelo Gueto Poético de Salvador e os Grupos, Porão do Riso, e Lindro Amor de São Francisco do Conde, trazendo este movimento para Camaçari e Dias D’avila nos anos de 1998 e 1999. A partir da sua criação e do sucesso alcançado nas ruas, a proposta do grupo foi influenciando outros artistas a conceberem seus grupos, foi o caso do Cio da Terra, Resistência, dentre outros grupos em Camaçari, além de outros tantos pela Bahia, já que nos festivais que o grupo participava, deixava sua marca diferenciada, como por exemplo, o NÃO USO DE DROGAS, comum entre os grupos de teatro daqueles tempos. O grupo ganhava espaço e respeito em todos os eventos, agora não só nos limites do nosso estado, passou a trazer inúmeros prêmios em festivais conhecidos, tais como o Festival de Ubá em Minas Gerais, Festival de Curitiba dentre outros.
Em 1998, o Grupo Caeba, através de uma parceira com a Câmara de Vereadores de Camaçari, tornou a arte de rua acessível a todos os alunos da rede de ensino Municipal, agora com temas e ainda com textos autoral, porém com cunho educativo e informativo atualizado, a exemplo de Fumar Pra Que Violência Porque, que foi encenado e visto por mais de 60 mil alunos da rede pública municipal de ensino de Camaçari. Cloro Como Viver Sem Você, que seguia a mesma linha, com uma nova Parceria com a empresa CQR, que fabricava o Cloro, foi outro estrondoso sucesso nas escolas públicas, nos municípios de Camaçari e Dias D’ávila, além de algumas intervenções em escolas de Mata de São João e São Sebastião do Passé. O domínio desta ferramenta de massificação e de mudança de conceito e quebra de paradigma acabou por despertar o olhar do Comandante da Policia Militar de Camaçari, 12º BPM, onde em parceria, o Grupo formulou uma peça teatral com participação de Policiais de Verdade e o elenco artístico do grupo, apresentando em escolas e comunidades da grande Camaçari entre 1999 e 2001, o programa espetáculo, DROGA ESTOU FORA, que tinha policiais de verdade nas encenações, chegou a ser encenado nas ruas, colégios e espaços alternativos, sendo que a apresentação de estreia aconteceu no Quartel dos Aflitos / Salvador, para o comando Geral da Policia Militar do Estado. O grupo cresceu em conceito e respeito e em pouco tempo, passou a tomar a cena cultural com os tradicionais espetáculos de caixa, começando com Romanceiros da Inconfidência de Cecília Meireles, com roupagem interpretativa de grande impacto. Depois vieram Carneirinho de Balem de Estela Leonardo, especifico para o Natal, FELIZ ANO NOVO, a mais polêmica das obras de Ruben Fonseca, Judite Fiapo na Serra Pela, da grande Paraibana Lourdes Ramalho, da qual também foi montado A Feira de Campina Grande, ambos, preparados estrategicamente de forma a atender a Caixa Tradicional e as Ruas, passando a compor o Rol dos Trabalhos do Grupo nos Festivais. Judite Fiapo na Serra Pelada, por exemplo, foi destaque e recebeu Menção Honrosa, nos festivais de Ubá, Minas Gerais e no Festival de Curitiba, destaque absoluto nas intervenções dos nossos tradicionais festivais de outrora, festival de Utinga em Utinga, Festival de Inverno em Vitoria da Conquista, Caminhada Axé, dentre outros eventos que acabaram sucumbindo, inexplicavelmente. A elaboração do espetáculo da Paixão de Cristo em 1998, abriu um enorme caminho para as propostas do grupo e a fundação do mesmo nome nos anos seguintes, chegando a propor e aprovar o projeto da Cidade Cenográfica da Paixão de Cristo em leis de incentivo cultural, Estadual e Federal. O texto com base na Bíblia sofreu adaptações que levavam o espectador não só a viver a Paixão, como entendê-la de fato como exemplo para todos os tempos.
Considerações Finais
O Grupo de Teatro Caeba, assim como muitos outros grupos que tiveram e que viveram a cena cultural de forma tão latente e inovadora, estão e vivem, cada um deles, no seu trabalho de reentrância no universo da arte, tão, mercantilizada e digitalizado nos últimos anos, tornando muitas vezes impossível a sobrevivência daqueles que foram sem sombra de duvida, precursores de um mundo ávido e latente de arte, como ferramenta de distribuição de conhecimento e de senso crítico…
Ao longo de anos, ou décadas, melhor dizendo, vivenciamos a cada ciclo, o desaparecimento de formas de manifestações peculiares de suma importância, não somente para alavancar as plataformas tecnológicas tão evidentes nos dias atuais, mas que deram e poderiam dar formas mais humanizadas as nossas questões humanitárias mais urgentes e dos nossos produtos de consumo em massa, responsável pela disseminação de conceitos, às vezes e por vezes, alienantes, com rotulações conceituais que acabam por impactar inclusive, na forma e nas formas de vermos e de vivermos o próximo como parte de nós mesmos. Acredito, defendo e luto, para que os novos formandos no campo das artes, onde o teatro a meu ver, se apresenta e se transforma por suas particularidades numa ferramenta de inegável valor e de enorme poder de transformação.
O chamado “tapa na cara” precisa ser alvoroçado por quem ainda carrega esperança de que num tempo próximo, possamos ver os seres humanos melhores, quem sabe até, humanizados e possibilitados a sonharem com dias melhores…
WILSON OLIVEIRA BIZERRA
Diretor /Produtor/Dramaturgo
DRT 2536 / SATED
Grupo Caeba